domingo, 18 de abril de 2010

Tá, e o quê que eu to fazendo aqui?






Tá tudo lindo, Ju. Agora, explica pra gente como você foi parar aí. Meus amigos sabem que vim para a Índia através da AIESEC para uma experiência de estágio. O que nem todo mundo sabe é como essa história está desenrolando. Estou trabalhando desde o dia que cheguei aqui na Child Rights Trust ou CRT, uma ONG para direitos humanos para crianças. Antes de sair do Brasil muita coisa estava indefinida e havia a possibilidade de trabalhar com projetos para meio ambiente e microcrédito, o que eu estava bem interessada mas acabaram não saindo, e cá estou. Fiquei um pouco apreensiva no começo pois não é exatamente a minha área e não sei até onde posso contribuir, mas por enquanto tem sido bem interessante e definitivamente não se trata de um assunto fútil ou desnecessário. Ser criança na Índia pode ser insustentável, impraticável, deplorável. Disso vou falar mais pra frente.

No primeiro dia, conversei muito com o Sr. Nagasimha, uma entrevista de trabalho bem informal, eu falando de lá e ele de cá, do trabalho que vamos fazer, do que eu busco aprender por aqui e do que posso oferecer, coisas do gênero. Contei da minha vida no Brasil, da minha família, da minha infância (é claro, estamos em uma ONG para os direitos da criança) e afins. De Martin Luther King a Burguer King, o Sr. Nagasimha (ou Simha) tem as melhores sacadas. Ele é muito bem humorado e comprometido com o trabalho, sabe do que está falando e vende o produto muito bem, nesse caso, o produto é a criação de awareness entre os diferentes grupos sociais (especialmente autoridades) dos direitos da criança. Ouvir ele falando dos dados, do que acontece na prática e do que se tem feito é inspirador. Em nossas conversas eu pude perceber que Índia e Brasil são MUITO parecidos em matéria de desigualdades e principalmente na situação das crianças, com algumas exceções aqui ditadas pelo hinduísmo e islamismo, ainda vou contar. No primeiro dia, a Sra. Padmini estava no escritório. Ela é uma autoridade na Índia em direitos da criança, já implementou projetos da Etiópia, já esteve em Brasília conversando com a nosso escritório da UNICEF e participou da Rio 92, na época trabalhava com meio ambiente.


A CRT é uma ONG-mãe. Trabalha coordenando mais de 60 outras ONGs no estado de Karnataka. O trabalho desempenhado aqui é de pesquisa, documentação, treinamento, mídia, entre outros, sempre assistindo as outras ONGs que, por sua vez, trabalham diretamente com as crianças e a comunidade em geral. Um dos maiores projetos da CRT é a Child Line, um similar ao nosso Disque-Denúncia e pelo que pude ver, realmente funciona. Ao testemunhar algum abuso contra criança, qualquer um pode acionar o Child Line que os agentes vão resgatar a criança em questão com ajuda policial. Resgatada, a criança vai para algum abrigo e fica ali por 4 meses vivendo, comendo, estudando, brincando e tendo apoio médico e psicológico diariamente. Visitei a CWC, Child Watch Comitte e a APSA, Association for Promoting Social Action. Ambas tem instalações bem precárias, mas os funcionários são sérios e comprometidos. Me pareceu que se eu fosse alguma daquelas crianças resgatadas, estaria bem feliz de poder ficar naquele abrigo e não na situação de abuso.

Meu trabalho vai de 09h30 às 17h30. É engraçado que se passa das 17h30 todo mundo fica nervoso pra ir embora porque “tá muito tarde, tá muito tarde!!” e vazam correndo. Somos 15 pessoas, alguns nomes: Rashmi, Thanuja, Padmini, Nagasimha, Lackshimish, Sumana, Pooja, Vasudevana, Adhunika e uma Maria Teresa, de família católica... quem me disser quem é homem e quem é mulher ganha uma bata indiana linda, é sério! Mas tem que gabaritar. Tive que anotar os nomes porque simplesmente não conseguia lembrar e ainda tenho dúvida de quem é quem, uma vergonha. Almoçamos sempre juntos, trazem marmita ou compram comida na cantina embaixo do prédio, sempre comida indiana. Eu faço parte do grupo da cantina. Durante o almoço se discute os projetos, o que falta fazer...Não se descansa do assunto do trabalho um minuto.

No último domingo fui na vila do Simha, se chama Chocolate. Distante 32km de Bangalore, é uma vila com 500 habitantes, e lá ele coordena um projeto com as crianças, elas mesmas saem batendo de porta em porta falando dos direitos das crianças, organizam workshops, vão aos templos conversar... uma coisa. O bom é que elas são umas queridas, são pra frente mas não são aquelas crianças-alien que a gente vê no Raul Gil ou então a rainha delas, Maysa. Fizeram um super interrogatório sobre mim e sobre o Brasil, e uma delas por quem fiquei completamente fascinada, Mega, ía anotando tudo freneticamente. Mega é difícil de descrever. O nome já diz tudo e ela merecia um post só pra ela, mas como não sei como dizer o que gostaria, vai sucinto mesmo. Com 16 anos ela parece ter 12, tanto fisicamente quanto na maneira de se comportar. Ela é a mais velha e cuida de todas as outras com uma graça que dá uma felicidade de ver... Pra resumir, ela tem uma luz tão forte dentro dela, ao mesmo tempo é tão frágil, tão querida... ofusca. Mega é mágica. Espero do fundo do meu coração que esse mundo podre de Meu Deus do Céu reserve a ela só alegrias, e a conserve. As crianças não falam inglês então rolou uma tradução simultânea do Simha. Tive que cantar o hino nacional e traduzir, tentei ensinar samba, subimos na árvore... foi ótimo. Conheci o Arum, um raparigo de 28 anos com casamento marcado para Julho. Foi casamento arranjado mas a moça é uma prima distante então eles já se conheciam, só que ela tem só 20 aninhos...Ele tá numa felicidade só, até brinquei com ele que tem ainda 2 longos meses pela frente e ele não pode mais esperar. Imagina, 28 anos de seca completa a gente entende. Ele me pareceu uma pessoa muito bacana, mas se ela está feliz não sabemos. O que importa é que fui convidada pro casamento AEEEEE então terei a chance preciosa de ver um típico casamento hindu do sul da India.

Voltando ao assunto do trabalho, tenho muitas visitas marcadas e to bem interessada. O que eu vejo nessas visitas é que me deixa mal e provavelmente serão assunto do próximo post, porque nem tudo aqui é reluzente e puro como Mega.

10 comentários:

Enzo Potter disse...

Nossa, Ju.. uma jovem chamada Mega, na sua poética descrição, dá um livro inteiro!!

bjones!

Dé disse...

Legal, Ju! O trabalho parece fascinante! Digo, no que diz respeito ao aprendizado que tu vai ter com isso. Quanto a "lidar" com esses problemas envolvendo as crianças, aí já é outra história... isso deixo pra tu contar pra gente.

Puts! Tu traduziu o hino nacional??? Manda a tradução pra mim então que nem eu sei!

Por fim, aí vai a primeira aposta na loteria dos nomes: Rashmi - mulher, Thanuja - mulher, Padmini - mulher, Nagasimha - homem, Lackshimish - mulher, Sumana - mulher, Pooja - mulher, Vasudevana - homem, Adhunika - mulher e uma Maria Teresa - mulher.

Tony disse...

Vasudevana é sobrenome??

Rashmi - mulher
Thanuja - mulher
Padmini - mulher
Nagashima - homem
Lackshimish - homem
Sumana - mulher
Pooja - mulher
Adhunika - mulher
Maria Teresa - mulher


Soh preciso q vc me confirme o Vasudevana preu chutar!!!

Ju disse...

Toni falcatrua, já to facilitando demais.... Vasudevana é nome!

Dé, depois que o Toni responder eu te falo... você errou só um nome!! Mas mesmo assim vai ganhar batas e jóias e tudo mais, tá??

fernanda disse...

lindas fotos, juuuu!!! parabéns!! parei 1 minuto dos meus estudos pra checar as novidades! saudades de ti!! sábado agora começam as minhas provas!!! cruza os dedos, amiga! beijo grande!

Dé disse...

Ebaaaa!!! Eu acho que até sei qual errei, mas como o parecido é de mulher... chutei!
A Mega é a de azul e amarelo sozinha na foto? Gente, a foto das duas crianças, um guri e uma guria, tá sensacional de linda (minha amiga que é fotógrafa achou fantástica), mas tb é de cortar o coração, eles parecem tão tristes.

Ju disse...

Isso, a Mega é aquela. As crianças não estão tristes, elas tavam assustadas comigo e com a câmera enfiada na cara! A menininha tava irritada porque acordaram ela pra ir ali hehehehe... Vou colocar as fotos da farra no orkut e face!

O menino de branco tá estudando pra ser ... religioso (não sei o nome do "cargo" que ele vai assumir)! É a versão hindu do nosso seminarista.

tony disse...

Vasudevana homem

Ju disse...

Toni ganhou!!!!

Dé, o que você errou foi Lackshmish, é homem!

disse...

Sim, foi o que imaginei, mas como Lackshmi é de mulher, achei que era uma versão "Sabrine" de "Sabrina", tipo AÇYN.

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